Exame de Ordem e os Desafios do Jovem Advogado no Brasil


28/03/2015 às 00h44
Por Bernardino e Gonzaga Advogados

Inicialmente, a reflexão que desejo empreender aqui explicita o alarmante momento e abarrotamento nas instituições de ensino superior em que muitas pessoas optam por realizarem o brilhante e tradicional curso de Direito.

Neste contexto, fazendo uma abordagem um tanto quanto preocupante aos olhos não só dos jovens advogados, recém-formados, mas também de toda classe nos cabe à exposição e reflexão do momento em que estamos vivenciando rotineiramente.

Um risco ao olhar de muitos, um prestígio ao olhar de outros, e a realidade de um mercado cada vez mais competitivo onde a "alavanca do sucesso" encontra-se na especialização em determinada área, no conhecimento de atuação em tempos de estágios no período de faculdade, e, principalmente, ao "abraçar a profissão com unhas e dentes", claro, sem perder a postura, seguindo os preceitos éticos da OAB evidenciados no Código de Ética e Disciplina, no Estatuto da Advocacia e no Regulamento Geral, são alguns dos fatores que norteiam o ápice de um futuro profissional promissor.

Pois bem, neste panorama não podemos deixar de interpretar o contexto da prova do Exame de Ordem, tornando-se uma "sabatina" que não mede conhecimento de ninguém ao olhar de muitos examinandos, não os tornando aptos a prática advocatícia e as “surpresas” da rotina forense, porém, fundamental ao exercício da advocacia. Mas, porque "não mede conhecimento de ninguém ao olhar de muitos examinandos" e porque "fundamental ao exercício da advocacia"?

A resposta é simples e abarca inclusive meu posicionamento, pelo qual não se torna único e preponderante o fator de estudar e obter como consequência a tão sonhada aprovação e obtenção da "vermelhinha". Fatores psicológicos, fisiológicos, físicos, dentre outros, por vezes, acabam se sobressaindo em um nível de "stress" do examinando na condução da prova e na briga com o tempo determinado para a realização do exame.

Pressão familiar, de amigos, dos conhecidos, pressa em inserir-se no mercado de trabalho, comparações com outras pessoas conhecidas que obtiveram a aprovação e você ainda não, são fatores aptos ao desequilíbrio emocional em um momento tão importante na vida do indivíduo, e, decisivo para muitos examinandos.

Porém, você pode ter estudado muito, até mesmo mais do que todos que obtiveram a aprovação anterior a você, mas no momento da prova estava com um nervosismo acima da média e não se saiu bem na avaliação, ou ficou a poucos décimos da aprovação.

Não estou relatando que o fator "estudar" não assume sua importância, muito pelo contrário, a ideia aqui é exprimir que além do estudo, importantíssimo em quaisquer aspectos, principalmente em algo que sonhamos em nossa vida, seja não só em uma prova da OAB, mas também para todos os concursos públicos em geral, deverá existir a incorporação da tranquilidade e serenidade que assumem valores fundamentais em tais situações, consequentemente com objetivos a serem atingidos.

Pensa que acabou por ai? Claro que não!

Existe a tensão quanto à "correção" dos avaliadores nos pontos suscitados na peça prática profissional e nas questões discursivas da 2ª fase do Exame de Ordem, onde, por vezes, retira o sono de muitos examinandos e principalmente daqueles que reprovaram "por pouco". Porém, é a vida!

Em outro panorama, cabe a ressalva quanto à importância do Exame de Ordem para todos os bacharéis em direito que desejam obter seu número de inscrição nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, ainda que não tenham a intenção de exercer a advocacia ativamente (a título de exemplo, tenho muitos amigos que são advogados, mas o foco é concurso público, uns para adquirirem a "prática profissional" exigida em alguns concursos públicos, outros para realização pessoal em dizer: sou advogado, porém, tenho outros objetivos profissionais).

Verifica-se que a importância da "sabatina" emerge, também, a um quadro alarmante de instituições de ensino em nosso país, onde ao invés de simplesmente comemorarmos os mais de 188 anos da criação dos primeiros cursos de Direito no Brasil - Faculdade do Largo de São Francisco/SP e da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, localizada originariamente em Olinda e logo após transferida para Recife/PE, deveríamos refletir e assumir uma autocrítica aptas a gerarem mudanças neste aspecto e da qualidade do ensino superior em diversas instituições de ensino em nosso país.

Daí, então, a necessidade de uma avaliação que analisa o mínimo de técnica a tornar um bacharel em direito em advogado, embora divergente no pensamento de milhares de bacharéis que lutam pelo fim do Exame de Ordem, tendo como representante o saudoso Deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), autor do PL 2.154/11 em que justifica relatando que a obrigatoriedade do exame é "absurda" e cria uma "avaliação das universidades de uma carreira, com poder de veto".

Não concordo com a extinção do exame de ordem, mas na forma em que deveria ser realizada a fiscalização e criação do curso de Direito nas instituições de ensino superior em nosso país, onde coincidentemente muitos cursos são criados em períodos eleitorais, bem como da análise em que as prerrogativas dos advogados traduzem meios essenciais destinados a proteger e amparar os “direitos e garantias” que o direito constitucional reconhece às pessoas.

Pois é, diante de tudo isso, depois dos percalços e dificuldades, você que "não pensa na extinção do exame de ordem" em um futuro seja ele a médio ou longo prazo, e "encarou" a situação, encontra-se agora em um outro panorama: sou Advogado. Mas, para onde vou? Entrego currículos para trabalhar na iniciativa privada? Preciso ganhar dinheiro, mas será que vale a pena (muitas vezes o que se ganha como um jovem advogado recém-formado paira aos reflexos e pensamentos que fazem repensar para muitos a opção de por que não ter feito outro curso)? Estudo para concursos (mas não adquiro experiência profissional)? Será um bom negócio me reunir com colegas de faculdade e abrirmos um escritório? Enfim, inúmeras são as perspectivas.

É, meu caro, a vida não é fácil para ninguém.

Uma dica que repasso a todos os colegas é a de que sigam sempre seus objetivos e mantenham foco naquilo que optarem. Planejar o seu futuro é de suma importância para atingir seus ideais sejam eles pessoais ou profissionais.

Não adianta querer abraçar o mundo, pois em determinadas vezes o mundo não vai "querer abraçá-lo",

Se o foco é estudar para concurso, mantenha este objetivo e não pense em trabalhar em um escritório de advocacia, muito embora até possa ser proveitoso no sentido de experiência profissional, mas para aqueles que já atuaram até mesmo como estagiário e analisaram a realidade dos advogados do escritório naquela oportunidade devem repensar se vale a pena não só a título financeiro, como também de quanto isto irá ser útil em seu futuro, pois se você tem um sonho de seguir uma carreira policial e atua na área tributária em um escritório de advocacia, pouco será a utilização de sua experiência neste contexto, bem como por muitas vezes você poderá abrir mão de um período primoroso para aprovação em um concurso público.

Todavia, cabe uma ressalva a todos aqueles que visam atuar como advogado em sua vida profissional saiba que em um mês você pode ganhar bem, outros meses, nem tanto. Tudo depende de sua demanda, de sua paciência e sabedoria ao "fracionar" seus honorários em momentos oportunos, pois no mês que não estiver tão bem, terá um "caixa" para deslocamentos, refeições, e outros gastos corriqueiros na vida do advogado.

A todos aqueles que têm uma visão empreendedora, atuem na advocacia e se especializem em determinada área, talvez este seja um diferencial de sua atuação perante os demais, analisando um cenário cada vez mais competitivo.

Não perca tempo, busque seus ideais, pois o amanhã pode parecer perto e ao mesmo tempo longe!

  • Direito

Bernardino e Gonzaga Advogados

Bacharel em Direito - Recife, PE


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