Atualmente as cidades mais violentas do Brasil estão situadas no Nordeste. O desenvolvimento de novos polos econômicos na região criou também o crescimento da criminalidade, situação para a qual o Nordeste não estava preparado.
O resultado disso é que, entre os 150 municípios com maior taxa de homicídio no Brasil, 107 estão localizados no Nordeste, o que cria uma proporção de dois para cada três municípios. Entre as capitais de Estado, as seis primeiras colocadas também são no Nordeste.
Esses dados fazem parte do “Mapa da Violência 2016 – Homicídio por Armas de Fogo no Brasil”, iniciativa da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, Flacso, que teve a coordenação do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz.
O relatório mostra que, mesmo havendo um decréscimo das mortes por arma de fogo nas últimas décadas, algumas realidades regionais não seguem o padrão.
O fator preocupante é que, de acordo com o relatório “Mapa da Violência 2016”, ocorreram em média 123 assassinatos por arma de fogo em 2014, ou seja, uma quantidade diária maior do que o Massacre do Carandiru, em 1992, evento que provocou comoção internacional. O que ocorre atualmente é um número maior, mas não gera a mesma comoção, mostrando que a sociedade está praticamente insensível aos números da violência.
Quem são as vítimas?
O perfil das vítimas é praticamente o mesmo em todas as regiões: jovem, negro, do sexo masculino, um perfil recorrente no cenário da criminalidade. Em sua maioria, são pessoas que moram nas periferias, que não possuem condições de se inserir no mercado de trabalho, que deixaram a escola e se tornaram colaboradoras do tráfico e do crime organizado.
No ano de 2014, o levantamento apontou que 94,4% das vítimas eram homens e que 60% estavam na faixa etária entre 15 e 29 anos.
A taxa de homicídios de negros, no mesmo período, chegou a 27,4 casos em cada 100 mil habitantes, um crescimento de quase 10% nos últimos 10 anos, enquanto que a taxa de homicídios de brancos caiu 27,1%, de 14,5 para 10,6, ou 6 mortes por 100 mil habitantes. A situação é bastante preocupante, uma vez que morrem 2,6 vezes mais negros do que brancos vítimas de armas de fogo.
Um dos pontos levantados pelo relatório é que a possibilidade de morte a tiros também varia de acordo com a educação, mostrando que, quanto menor a escolaridade, maior é a chance de envolvimento com a criminalidade.
Os números apontam que, para cada jovem entre 15 a 19 anos que tenham estudado 12 anos ou mais, morrem 44 que não estudaram ou que são semianalfabetos. Essa relação aumenta de 1 para 66 na faixa entre 20 a 29 anos.
O levantamento faz parte do estudo “Educação: Blindagem contra a Violência Homicida”, de autoria do sociólogo Gilton Santos. Os números também apontam que o mais comum é relatos de homicídios envolvendo disputa pelos pontos de venda de drogas, sendo, portanto, o tráfico o principal problema, um problema que, mais cedo ou mais tarde a sociedade deverá enfrentar com seriedade.