Como a vitória de Donald Trump pode afetar o Brasil?


09/11/2016 às 08h49
Por André Arnaldo Pereira

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos foi anunciada às 3 horas da madrugada, contrariando todas as pesquisas de opinião, depois de conquistar os chamados Estados-pêndulo (Flórida, Ohio e Carolina do Norte).

Para os Estados Unidos, a vitória de Trump confirma uma situação que os brasileiros puderam verificar em São Paulo, com a vitória de João Dória: a população parece estar decepcionada demais com a classe política, buscando pessoas de que tenham maior tendência para a administração, fugindo de promessas de campanhas e de plataformas que não se realizam ao longo da gestão.

E, para nosso país, como um todo, a vitória de Trump também pode trazer alguns aspectos novos, que devem ser analisados:

Comércio

A principal das questões é o comércio. O Brasil teria benefícios com abertura maior dos produtos brasileiros nos Estados Unidos, que são o nosso segundo maior parceiro comercial, atrás apenas da China.

O partido Republicano sempre defendeu o livre comércio, se opondo a medidas protecionistas, mas Trump parece ter invertido a lógica, propondo a renegociação dos acordos comerciais para preservar empregos no país, reduzindo o déficit americano nas transações comerciais com outros países.

Segundo analistas, como Denilde Holzhacket, professora de Relações Internacionais da ESPM, as consequências seriam imediatas e negativas, já que Trump é contrário ao livre comércio, mas, antes é preciso saber como ele poderá mudar essa situação. Afinal, a globalização exige um comércio mais livre e essa é uma situação difícil de ser contornada.

Imigração

Atualmente há mais de um milhão de brasileiros vivendo nos Estados Unidos e boa parte deles está em situação irregular. A proposta de Trump é proibir a imigração e deportar todos os imigrantes ilegais.

Segundo Trump, os imigrantes legais serão protegidos, mas a admissão de novos irá levar em conta as chances de conseguir sucesso nos Estados Unidos, o que, em tese, favoreceria brasileiros com habilidades específicas e com maior escolaridade.

Brasil e Estados Unidos vinham negociando um programa de redução da burocracia para viajantes frequentes, embora a eliminação dos vistos fosse ainda um objetivo distante, e essa postura de Trump pode prejudicar o intercâmbio entre brasileiros e norte-americanos.

Relacionamento

Os países sul-americanos não foram temas prioritários durante as campanhas de Trump e de Hilary Clinton, embora o Brasil tenha sido citado por Trump em 2015 como um dos países que, segundo ele, levam vantagem sobre os Estados Unidos através de práticas comerciais injustas. No entanto, a balança comercial ainda é favorável aos Estados Unidos.

Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Unifesp, considera que não deve haver mudanças no relacionamento com o Brasil, principalmente porque Trump tem participação, como empresário, em projetos em nosso país. No entanto, há que se levar em conta a imprevisibilidade de Trump.

Claro que, como os Estados Unidos estão mais preocupados em resolver os problemas internos, o Brasil não será uma preocupação.

O relacionamento entre Brasil e Estados Unidos sempre foi mais dependente da relação entre os líderes, independentemente de partidos e ideologias. Na história recente, o relacionamento entre os dois países sempre foi próximo, havendo apenas um resfriamento entre Obama e Dilma Rousseff.

Desta forma, os laços comerciais e diplomáticos devem ser mantidos, uma vez que os dois governos dialogam dentro de estruturas burocráticas.

Para o Brasil, é interessante manter a aproximação com os Estados Unidos e o governo Temer é interessado em manter essa situação.

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André Arnaldo Pereira

Advogado - Santa Rosa, RS


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