Guido Mantega: preso e solto logo depois


22/09/2016 às 19h27
Por André Arnaldo Pereira

A prisão de Guido Mantega na 34ª fase da Operação Lava-Jato, denomina Arquivo X, foi, entre outras razões, motivada pela delação de Eike Batista, que disse ter efetuado o pagamento de propina no valor de R$ 4,7 milhões a pedido de Mantega para quitar dívidas de campanha do PT.

A quantia foi operacionalizada por Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, que disse ter firmado um contrato falso de prestação de serviços com Eike Batista, quando, na verdade, o dinheiro era para cobrir o rombo da campanha petista.

A prisão de Guido Mantega, caracterizada como temporária, ou seja, só poderia ficar 5 dias detido, com possível prorrogação de mais 5, gerou comoção nas redes sociais, principalmente entre os militantes petistas, que alegaram abuso de autoridade, falta de caráter humanitário e muitos outros apelos a que o público já está acostumado quando se trata de prisão de integrantes do governo e ligados ao Partido dos Trabalhadores.

A liberação de Mantega

Ao tomar ciência da situação em que Mantega havia sido preso, em despacho urgente o juiz Sérgio Moro justificou que acolheu o pedido dos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato para decretar a prisão temporária de Mantega e de outros investigados, mas que, ainda que se considere a “gravidade dos fatos em apuração”, a notícia de que a prisão ocorreu no momento em que o ex-ministro “acompanhava o cônjuge acometido de doença grave em cirurgia”, determinou a liberação de Mantega.

De acordo com o despacho de Moro, as autoridades policiais, o Ministério Público e ele próprio “desconheciam tal fato”, destacando que as buscas e apreensões realizadas já haviam ocorrido, não havendo, portanto, chances de interferir “na colheita das provas nesse momento”.

Guido Mantega foi, assim, liberado por razões humanitárias, mas o fato não impede a continuidade da Lava-Jato. Nos bastidores especula-se que uma possível delação premiada do ex-ministro estaria para o PT como Cunha está para o PMDB, ou seja, seriam delações explosivas.

As investigações indicam que o que está corroendo o Brasil está precisamente no conluio entre os amigos do ex-presidente Lula para promover o enriquecimento ilícito de muita gente ligada a empreiteiras e partidos políticos, uma corrupção que, de acordo com os procuradores da Lava-Jato, é sistêmica.

Mesmo empresas pequenas e sem competência técnica acabam recebendo contratos volumosos e, ao que tudo indica, só depende de laços de amizade, de relações sociais e políticas, de acordos e indicações, ou seja, tudo depende de interesses.

A situação política brasileira está ainda no governo da coisa pública como se fosse privada, no que é chamado patrimonialismo, onde o agente público cuida da coisa pública como se fosse privado e o empresário avança na coisa pública como se fosse sua conta bancária.

As propinas na Petrobrás e em outros órgãos públicos envolveram tanto o PT quanto o PP e o PMDB, mas a Operação Lava-jato está atuando com foco no PT. Ao final, o que importa é que a Lava-jato seja o mais ampla possível, investigando todos os envolvidos e, dessa forma, estabelecer um padrão mais ético e moral na política brasileira.

  • Guido Mantega

André Arnaldo Pereira

Advogado - Santa Rosa, RS


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