Indústria: a retomada do crescimento será lenta


07/10/2016 às 15h36
Por André Arnaldo Pereira

O resultado da produção industrial de agosto, último divulgado pelo IBGE, mostra que a recuperação da economia será mais lenta do que se previa. Segundo o PIM – Pesquisa Industrial Mensal, a queda foi de 3,8%, mais acentuada do que previsto pelos economistas, mostrando que havia pouca consistência na trajetória ascendente antes verificada.

As avaliações otimistas sobre a recuperação industrial foram estimuladas pelos índices dos meses anteriores. No entanto, a produção industrial está diretamente relacionada à recuperação do poder de compra da população, que ainda continua em queda.

A queda da produção industrial de agosto é a mais grave desde janeiro de 2012, atingindo a maior parte dos setores pesquisados, tendo alcançado 5,2% na comparação com agosto de 2015, sendo a trigésima queda seguida na comparação com os dados do mesmos mês do ano anterior.

Alimentos e automóveis: os mais afetados

Os dois setores que mais afetados pela queda na produção industrial de agosto foram a indústria de automóveis e a de alimentos. A produção de automóveis caiu 10,4% de julho para agosto, e a de alimentos, 8%.

A produção de veículos teve como principal causa a paralisação de uma fábrica em São Bernardo do Campo, em virtude de problemas com fornecedores de autopeças e a produção de alimentos teve como causa principal o clima, que prejudicou a indústria de açúcar.

Como as montadores possuem um peso considerável no desempenho do setor industrial, já que sua atividade influi na produção de componentes e de bens intermediários, o resultado o mês foi mais fortemente afetado.

Em se tratando de problemas episódicos e sazonais, imagina-se que o desempenho da indústria consiga melhores índices nos próximos meses. A indústria automobilística pode superar-se até o final do ano, fato que, se ocorrer, irá contribuir para melhorar os resultados de todo o setor secundário.

A venda de automóveis, como de outros bens duráveis de custo mais elevado, depende da oferta e do custo do financiamento, além da confiança do consumidor, e nenhum desses fatos determinantes para a venda de bens está presente na economia.

Com a crise econômica, as instituições financeiras se tornaram mais rigorosas e seletivas para a concessão de empréstimos e, como a inflação persiste em se manter acima da meta, a política monetária conduzida pelo Banco Central mantém-se ainda restritiva, tornando o crédito mais escasso e mais caro.

Aumento do desemprego, outro fator cruel

O IBGE também mostra que houve aumento no número de desempregados, que totalizam mais de 12 milhões, ao mesmo tempo em que continua a cair o rendimento real dos questão trabalhando.

O único sinal de alento foi dado pela indústria de bens de capital, que teve uma produção aumentada em 0,4% em agosto, o que poderia indicar a recuperação dos investimentos necessários para a retomada do crescimento.

Contudo, é um resultado que precisa ser avaliado com cautela, já que o aumento se deu através de uma base ainda decaída, como a indústria de máquinas e equipamentos, que está operando num nível 41,6% inferior ao do pico registrado em setembro de 2013.

O aumento de 0,4% ainda é insuficiente para impulsionar a formação bruta de capital fixa, que é a medida dos investimentos na composição do PIB, integrada também pelas aplicações na Construção Civil.

A situação levantada pelo IBGE ainda mostra que pode haver nova redução do PIB até o final do ano, ou seja, que a economia brasileira ainda não chegou ao fundo do poço.

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André Arnaldo Pereira

Advogado - Santa Rosa, RS


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