Na sexta-feira, 21 de outubro, uma declaração do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, provocou novo desconforto no governo. Depois da prisão de agentes da polícia do Senado, Moraes disse que os servidores tinham extrapolado quando tentaram obstruir investigações da Operação Lava-jato contra alguns senadores, fazendo varreduras antigrampo em seus escritórios, nos gabinetes e nas residências de José Sarney, Lobão Filho, Gleisi Hoffman e Fernando Collor.
Renan Calheiros, presidente do Senado, havia defendido em nota a legalidade das varreduras, e as críticas de Moraes teriam provocado sua irritação, que foi levada ao presidente Temer e a outros ministros.
Segundo relato de alguns ministros, Calheiros teria ficado incomodado com a declaração do ministro, reclamando com integrantes do Palácio do Planalto, telefonando ainda para Michel Temer e para Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo, protestando contra a atuação de Moraes no caso.
Ao jornal “O Estado de São Paulo”, em entrevista concedida depois do episódio, Renan Calheiros afirmou: “Quem fala demais acaba dando bom dia a cavalo”.
Alexandre Moraes causa desconforto ao governo
Esta não é a primeira vez que uma declaração do ministro da Justiça provoca desconforto no governo e nos aliados, fato que vem suscitando rumores de que ele poderá ser substituído, se não atuar mais afinado com o Palácio do Planalto.
No final de setembro, num ato de campanha das eleições em Ribeirão Preto, São Paulo, Moraes chegou a antecipar que haveria mais desdobramentos da Operação Lava-Jato naquela semana e isso apenas um dia antes da prisão do ex-ministro Antonio Palocci.
No mês de julho, quando anunciou a prisão de suspeitos de planejamento de atentados terroristas nas Olimpíadas, Moraes também desagradou o presidente por usar excessivamente os holofotes e tendo caído em contradição, ao minimizar a capacidade de dano do suposto grupo terrorista.
Ainda dentro do governo, Moraes também foi criticado por defender o aumento salarial da Polícia Federal, justamente em meio à tentativa do governo de aprovação da PEC 241, que limita os gastos públicos.
Para Renan, em sua entrevista, Moraes “claramente atrapalha” quando faz qualquer tipo de declaração, afirmando que ele devia “falar menos”. No entanto, negou que tenha pedido a demissão do ministro ao presidente da República:
“Quem extrapolou foi ele no exercício do cargo. Acho que ele precisa falar menos. Houve, no mínimo, precipitação. Não fica bem, para a separação dos poderes, um ministro de Estado ficar falando uma coisa dessas, que claramente atrapalha. Estou fazendo meu papel como presidente do Senado. Apenas reclamei em função de suas declarações. Se ele vai permanecer no cargo ou não, isso quem decide é o presidente da República”.
A ação da Polícia Federal, na sexta-feira, prendeu quatro policiais envolvidos na atividade antigrampo. O único que ainda permanece detido é o diretor da Polícia no Senado, Pedro Araújo, que é o alvo central das investigações até o momento. Sua detenção deve ser até esta semana, quando termina o prazo de prisão provisória, depois de depor perante a Polícia Federal.