Sérgio Moro, juiz responsável pela maior parte dos processos da Operação Lava-Jato em primeira instância, esteve participando de um evento em Nova York, na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, na última segunda-feira, 6 de fevereiro.
Aplaudido pelo público ao subir ao palco, ele teve dificuldade em começar sua palestra. Alguns manifestantes brasileiros, espalhados na plateia, o interrompiam, dizendo em inglês que ele não era bem vindo à universidade.
Quatro manifestantes gritavam que os julgamentos feitos por Moro eram “tendenciosos e partidários” e outros carregavam cartazes que traziam a palavra “golpe”. No entanto, a maior parte da plateia irrompeu em vaias, tentando calar os manifestantes que, finalmente, foram retirados do local.
A palestra de Sérgio Moro
Em sua palestra, Sérgio Moro explicou a Operação Lava-Jato como se estivesse falando para um público estrangeiro, muito embora a maior parte dos presentes fossem brasileiros. De início, elogiou a atuação de Edson Fachin, ministro indicado para ser o novo relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal.
Segundo Moro, a Lava-Jato pode apresentar “um curto período de instabilidade, mas há outras escolhas a serem feitas, nem tudo é a economia. Se não fizermos nosso trabalho, a democracia e o Judiciário podem sair prejudicados”.
O juiz também afirmou que seu trabalho é apenas julgar o resultado das investigações dos procuradores. Para ele, “se os procuradores apresentam evidências de conduta criminosa, e se isso envolve políticos, eu preciso decidir baseado nas evidências. A consequência política é algo que acontece fora dos tribunais”.
Depois de sua fala, a sessão foi aberta para perguntas dos participantes. Uma delas o questionou se tinha interesse em ocupar um lugar no STF, ao que Moro, com um sorriso, respondeu que “não faria campanha”.
Sobre Alexandre de Moraes que, durante a palestra ainda estava apenas cogitado para o cargo, disse estar longe do Brasil e não estar atento às notícias, mas que desejava sorte ao novo ministro.
O juiz também foi questionado sobre uma foto ao lado do senador Aécio Neves durante um evento ocorrido em 2016. Moro disse estar apenas sentado ao lado do senador, e que não conversaram sobre as investigações. Aécio é citado na delação da Odebrecht, continuando a negar qualquer irregularidade.
Aos participantes do evento, Sérgio Moro deu a entender que irá continuar tornando públicas as delações da Lava-Jato, afirmando que vazamentos à imprensa são ilegais, mas que a divulgação autorizada pelo juiz é diferente: “a justiça brasileira permite e até exige essa conduta”.
Para um estudante que questionou sobre a relação da Lava-Jato com o descobrimento do pré-sal, Moro disse que “não há nenhuma evidência disso e não podemos acreditar em teorias da conspiração. Às vezes isso parece conversa de maluco”.
A Operação Lava-Jato não é a criminalização da política
Durante a palestra, Sérgio Moro contestou a tese de que a Operação Lava-Jato seja uma forma de criminalizar a política.
Ao responder a uma das perguntas, ele afirmou que “ninguém está sendo processado ou condenado com base em suas opiniões políticas. São casos envolvendo propinas. Então, não é similar ao macarthismo, é completamente diferente”.
Moro ponderou que, como o caso envolve propinas a políticos, inevitavelmente haverá consequências políticas, “mas isso acontece fora do tribunal e o juiz não tem controle sobre isso”.
Complementando essa afirmação, Moro disse que “alguns políticos também dizem que a Operação Lava-Jato representa a criminalização da política. Mas, para sermos honestos, a culpa não pode ser apontada para o processo judicial, mas para os políticos que cometeram os crimes. O processo judicial é somente uma consequência. O Judiciário não pode ficar cego diante dos crimes”.
Segundo Moro, “os juízes estão apenas fazendo seu trabalho, processando os casos baseados em provas”. As ações estão sendo conduzidas conforme o “devido processo legal”, com respeito aos direitos da defesa.
Moro ainda afirmou que “devemos ter fé no futuro, e se conseguirmos superar a corrupção sistêmica, teremos razão para ficarmos orgulhosos do Brasil e provar que a democracia vai sair fortalecida”.