Votos nulos, brancos e abstenções batem recorde


31/10/2016 às 15h03
Por André Arnaldo Pereira

As abstenções e os votos nulos e brancos chegaram a um total de 35,2% em todo o país, considerando os dois turnos das eleições municipais, fato que, segundo observadores, é bastante significativo, já que se mostra como uma forma de a população passar um recado para a classe política.

Seja pela falta de boas propostas ou pelo grande número de ataques e trucagens durante a campanha, a situação mostra que a população não suporta mais os atuais moldes da política brasileira.

Desta forma, os grandes campeões nas eleições municipais foram os votos inválidos e as abstenções. O Tribunal Superior Eleitoral já havia mostrado que a soma dos votos inválidos e abstenções superou o primeiro ou o segundo candidato na disputa para prefeito em 22 capitais brasileiras.

A soma dos votos inválidos e abstenções superou o primeiro colocado em 10 capitais: Porto Alegre, Porto Velho, Curitiba, São Paulo, Campo Grande, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Cuiabá, Aracaju e Belém.

No Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, a soma dos votos inválidos e abstenções superou os votos obtidos pelos dois primeiros colocados juntos.

As abstenções e os votos inválidos superaram o segundo lugar na votação em 11 capitais: Florianópolis, Goiânia, Palmas, Maceió, Recife, Natal, São Luís, Fortaleza, Macapá, Boa Vista e Salvador.

Em Rio Banco, Vitória, João Pessoa, Teresina e Manaus, a soma das abstenções e votos inválidos superou o terceiro lugar na eleição.

Apenas Manaus mostrou-se como exceção, obtendo um índice de abstenções de apenas 8,59%. O Rio de Janeiro, por sua vez, mostrou o maior índice de pessoas que não votaram ou votaram inválido: 24,28%, quase um para quatro eleitores.

São Paulo é um caso bastante curioso: a soma dos votos inválidos e abstenções chegou a 3.096.304. O prefeito eleito, João Dória, que venceu no primeiro turno, teve 3.085.187 votos.

O que provocou as abstenções e votos inválidos?

Segundo o professor Pablo Ortellado, de gestão de políticas públicas da USP, o grande número de eleitores que não votaram ou anularam o voto foi causado pela onda de manifestações de 2013, além do impacto provocado pela Operação Lava-Jato.

O professor disse que “estamos vivendo uma profunda crise do sistema de representação por causa de dois processos. Junho de 2013, com a grande mobilização da sociedade brasileira, rejeitando o sistema de representação e demandando direitos, e esse escândalo da Lava-Jato, que contaminou e colocou sob suspeita todo o sistema político partidário. Todos ficaram sob suspeita desde o início das investigações”.

Para Ortellado, a vitória de João Dória no primeiro turno da capital paulista é um reflexo do mesmo fenômeno, uma vez que sua campanha foi baseada completamente num discurso antipolítico.

Segundo ele, “o resultado das urnas em São Paulo foi uma demonstração eloquente do discurso da antipolítica. Essa é uma refeijão natural – eu ficaria muito preocupado se houvesse uma crença no sistema político depois de tudo que aconteceu nesses últimos três anos”.

O recado das eleições municipais de 2016 deve sensibilizar os políticos com relação ao seu comportamento. O que se espera é que entendam o que a população está dizendo.

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André Arnaldo Pereira

Advogado - Santa Rosa, RS


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